Pra você me ler
- Viver é a sua convicção.
Imagine um ano em que todas as convicções que tinha se perderam em novas versões suas. Tanta coisa deu errado. Tanta coisa te minou e te abateu. Você definitivamente caiu tantas vezes que teve que reaprender a caminhar. Até a sua fé foi preciso moldar do zero.
Você sempre foi caótica e nem sempre porque queria ser. A vida tem questões e existe esta sua mania de tentar resolver todas, mas a verdade é que nem sempre vai conseguir. Você não é só vilã ou só uma anti-heroína quebrada tentando fazer a coisa certa, por mais que queira muito ser. Você também não é alguém ruim, só nas histórias de algumas pessoas. Boa?! Também não. Não só isso. Seria tão sem graça.
Você é a protagonista, e por mais que protagonismos venham cheios de clichês, a sua história não vive deles. Seu corpo e mente tem todas essas partes totalmente humanas com eles, mas não se define assim. Você está viva e viver é muito, muito, muito mais do que isso.
Existem respostas que vão vir em sonhos impossíveis de se esquecer. Essa vida que você está vai te dar tantas informações para os mistérios e as perguntas que tem feito. Vai ser necessário estar de ouvidos atentos, olhos abertos, alma livre. Livre de tudo aquilo que te impede de ser exatamente quem é.
Não tenha medo de chorar como se fosse morrer a qualquer momento porque depois de choros assim vem mais uma versão sua. Impagável, precisa, forte e cheia de vontade de consumir esta chama que revive dentro de ti incansáveis vezes.
Imagine um ano em que você torceu para acabar te ensinando todas estas coisas e use aquela chama para iluminar tudo. Ela está aqui comigo e aí com você. Dentro de nós há todos os mistérios, respostas, emoções e forças do mundo.
Você é importante, protegida, não está sozinha, e é além desse corpo em que mora, mas também precisa aprender a gostar um pouco mais dele. Você pode ser feliz e tem o direito de se sentir especial porque a verdade é uma coisa difícil para si mesma de aceitar, mas você é! Muitas coisas incríveis ainda vão te tocar. Permita que elas toquem.
- Entre o risco e a aventura.
Eu queria saber exatamente pra onde ir, mas eu perderia o espaço entre o risco e a aventura, né?! E eu talvez ame ficar obcecada pela dúvida, essa sou eu, mesmo que diga que não. Vivo esbarrando em incertezas.
Caminhos tranquilos, mares rasos, ruas sem turbulência, nada disso é sobre mim. Meus pés pisam sobre o fogo em linhas tortas. Eu até queria ver o futuro e me antecipar, mas eu perderia todo aquele fogo queimando meus pés, ardendo meu coração.
Poderia ser aquela que vê as coisas dando certo e respira fundo em agradecimento, mas as coisas não dão certo assim, do nada! Eu me acostumei com a falha. Com aqueles obstáculos enormes surgindo na minha frente, como videogame. Calço minha bota, de salto, não sei andar direito, mas vou. Ando sobre o fogo com ela e me perco entre várias direções.
Vou, mesmo sem saber para onde. A dúvida me agonia e me arde por inteira, mas eu não sei o que faria sem aquelas coisas que machucam, machucam, machucam e me fazem querer desistir. Eu não sei o que faria com tudo dando certo assim de cara, porque pra mim, nunca foi desse jeito. Quem sabe eu não ame o caos, só esteja acostumada demais com ele.
Uma história inteira de nãos e quedas, com o mesmo coração quebrado, me fez uma lutadora nata. Eu não queria ser, a vida apenas me obrigou a isso. Eu queria a paz e o agradecimento tanto quanto você. Noto meu caminho, respiro fundo e vou porque alguma coisa me diz que vai dar tudo certo.
Não de cara, de um jeito fácil, eu nunca conheci nada assim. Eu até perderia o espaço entre o risco e a aventura, se pudesse. Mas a vida gosta de se fazer de difícil pra aqueles que realmente precisam chegar a algum lugar. Vai dar tudo certo! Eu repito a mim mesma e sigo andando em alguma direção.
Eu não sei o que faria sem esse videogame e quando digo que não quero saber, saiba que eu queria muito, muito, muito. Incerteza, agonia, ansiedade, tudo isso é sobre mim. Torço para o dia em que não terei mais que queimar os meus pés sob estas linhas tortas. Chegar lá é tão distante. Será que eu já não cheguei? Eu repito a mim mesma: vai dar tudo certo, né?
- Eu sou o renascimento
Como pode que depois de morrer um pouquinho, a gente ainda renasça de novo?!
Eu tinha uma ideia diferente das coisas que o amor me mostrou aos dezenove, mas a surpresa nunca morreu. Eu ainda sinto como se fosse enfartar a qualquer momento, quando as borboletas surgem no meu estômago.
Queria que o que deu errado tivesse me mudado um pouco mais, mas da morte de uma eu apaixonada, nunca deixou de renascer algo bonito e interessante. Um jeito ainda mais doce de me entregar.
Não que eu não saiba que vai dar errado e que vou cair outra vez em cima das minhas próprias ilusões, mas fica mais fácil entender as quedas depois de cair tantas vezes.
Se pudesse, faria uma surpresa para aquela eu que se apaixonou pela primeira vez e diria a ela: eu sou o renascimento de todos os amores antigos, que nem eram amores, mas vontades guardadas, expectativas exageradas de pessoas que eu não amava de verdade.
Amor é aquilo que a gente sente no inicio ou aquilo que a gente sente no final? Surpresa! Nenhum dos dois. Acho que amor é aquilo que renasce na gente toda vez em que pensa que não tinha como sentir outra vez.
Como pode que a gente ainda tente?! Como pode que depois de morrer um pouquinho, a gente ainda renasça de novo?!
- Nuvens de algodão
Se um dia me aceitassem como realmente sou e desse uma pausa este meu vazio, eu correria pelas ruas. Descalça e mesmo com o chão quente, imaginaria apenas ruas de algodão sobre os meus pés.
Se um dia me ouvissem sem julgar que falo demais e sem me deixar aquela angústia, eu sorriria tão largo, tão largo, que talvez pudesse ficar assim pra sempre, como se muito Botox tivesse me remendado a cara.
Eu sempre aceitei a natureza de quem se abria comigo, também sempre ouvi com atenção suas histórias, mas parece que quando somos nós mesmos, não muito bem entendidos, desconfortáveis, sem aliados pra nos abraçar quando o desabafo vem.
A rejeição sempre te deu medo?! Talvez tenha se acostumado com ela. Se as pessoas aceitassem as outras como realmente são, eu não me sentiria assim, e nem você. O mundo seria apenas daquelas ruas de algodão. Por quê não?! Apenas ruas de algodão sob nossos pés!
Se ser livre e aceito é a maior cura do mundo, por quê não?! Ah... Se eu pudesse curar esse vazio.